quinta-feira, 9 de maio de 2013

QUINTAL: TERRITÓRIO DE ANÁLISE



      Por André Chaves- Surubim - PE.

           
Minhas lembranças dos momentos de infância, onde minha mãe e minha avó, lavavam roupa, é ainda clara e fresca. Para elas, era um exercício diário de manter a limpeza e manter a família nos conformes. Para mim, naquela fase como “partilhador” do quintal, era um exercício de análise (sem que eu tivesse plena consciência, claro), já que eu as esperava lavar as roupar para iniciar a brincadeira. As roupas penduradas viravam armários, e pessoas. Os lençóis dividiam os espaços, e em cada meio de varal que eu passava, era um mundo diferente. O quintal era grande, e não necessitava de esperar para começar a brincadeira, eu esperava porquê já sentia que analisar e idealizar a brincadeira fazia parte dela.
            Ontem eu voltei à época em que lençóis eram minhas paredes, e cortinas. Mesmo assumindo o “imprevisto”, tido pela desatenção da pessoa responsável de abrir o espaço, causando atraso no início da oficina, Charlon consegue me mostrar um caminho para apontá-lo uma nova proposta de abertura da oficina, aliás, a análise e preparação fazem parte do processo de estudo e execução. Para mim, não foi nada incômodo esperar e ver a preparação do espaço, pelo contrário, ver a Câmara de vereadores de Vertente do Lério se transformando no nosso quintal de trabalho foi uma das coisas mais bonitas de ser vista em toda oficina, além da dinamicidade e bom humor que o facilitador a conduz, é claro.
            É visível o amor e a responsabilidade com que Charlon conduz a oficina e ergue a bandeira da arte-educação. Tudo posto em debate é sempre extremamente válido e exaustivamente testado e discutido por quem está dentro do contexto. As lembranças fluem naturalmente, e as sensações de estarmos do lado de quem aprende nos faz perceber como as coisas devem ser conduzidas, exatamente assim, cuidadosamente, com uma cautela de quem recebe para poder disseminar. As dinâmicas, e os momentos de distração logo terminam em exercício reflexível, e parar para pensar que a distração está intimamente ligada a produtividade faz parte desta reflexão.
            A função me dada nesta etapa do projeto, começa a se tornar uma difícil tarefa. Os trechos ““tu vens chegando pra brincar no meu quintal” e “o sol quarando nossas roupas no varal”, na música executada pelo João (a propósito, muito bom músico que deve seguir carreira teatral), me arrepiam e consegue me tocar e sensibilizar, fazendo compreender a função e ideia de proposta da música ao vivo na oficina. Sutilmente útil e funcional, a música, neste exato momento. O problema é que depois isto não se repete, e a impressão de ter uma música específica para cada momento se vai (conste, esta visão é apenas para os momentos de música, os efeitos sonoros funcionam como elemento provocativo, não como ilustração).
            O quintal se forma, consegue envolver-nos. Para mim fica muito claro a função da atividade de formação de multiplicadores da ideia. Concentração, memória (conhecimento prévio), dinamismo, sensibilização, relativização, e vários outros elementos e ideias ficam presos ao subconsciente da nossa atenção, para que isso seja atentado na percepção da troca de informação dentro da minha sala de aula.Resta a aplicação, que agora, é de fácil execução.
            A utilização da arte como meio de entrar em contato com a verdade, é sem dúvidas a melhor forma de se chegar lá, a falta de pretensão da arte nos possibilita isso. Eu tenho agora a impressão, que temos que procurar meios que façam com que isto funcione na prática, assim um dia quem sabe, as escolas brasileiras (lê-se sistema de ensino e ações pedagógicas) deixarão de treinar alunos e passarão a ensiná-los, formá-los mesmo, como sempre deveria ser, e ações com abertura para a discussão desta mudança como “O Quintal” (mesmo que de forma intrínseca e sutil) tenham mais espaço e construa uma forma de pensar arte sociopoliticamente, de verdade.


André Chaves
Ator e diretor.